27 de nov. de 2017

Websérie No Olhar: a construção de narrativas visuais por Anna Kahn Fotógrafa do sexto episódio relata experiências do seu processo criativo de mergulhar no desconhecido para decifrar silêncios e tragédias cotidianas


No Olhar é a websérie que exibe semanalmente episódios com os principais fotógrafos e fotógrafas do Brasil. O projeto que está em sua segunda temporada tem apoio da Secretaria da Cultura de Estado do Paraná e Companhia de Energia Elétrica (Copel). As entrevistas têm o desafio de revelar ao expectador conceitos sobre uma leitura mais apurada da fotografia, linguagem, influências e histórias de vida desses profissionais de maneira mais intimista. Os vídeos com duração de nove a 12 minutos são lançados todas as segundas-feiras no canal do youtube.com/noolhartv e nos perfis das redes sociais. Para o sexto episódio desta temporada, No Olhar convidou a jornalista e fotógrafa Anna Kahn.

Anna Kahn tem uma relação com o mundo através da fotografia e conta suas histórias construindo narrativas visuais, inspiradas em diversos temas. Cada trabalho abre as portas para um novo mundo. “Eu posso ir para Belém e mergulhar num universo totalmente diferente do meu. Chamei esse trajeto de “Sem Medo do Escuro”, porque o escuro é justamente esse mergulho no desconhecido. Neste caso, o que me interessava era o processo criativo, a proposta de deslocamento para uma cidade que eu não conhecia e sem saber o que eu ia fazer. Essa era a premissa: estar livre para esse acaso”, afirma a fotógrafa.

Já, no livro Oriente, o processo foi outro. Convidada pelo curador Jean Loh, de Shanghai, participou de uma residência artística pelo interior da China, em 2013, onde buscava retratar a ausência, a solidão e o silêncio. “Fui com uma ideia na cabeça e percebi que isso foi um grande erro. Eu tinha uma fantasia da China, especialmente dessa região no Sul do Tibet, onde pretendia fazer um trabalho sobre o silencio. Quando cheguei lá vi que foi um equivoco muito grande. Levei tempo para me recuperar e escolher outro caminho que eu não sabia pra onde ia me levar. Depois entendi que tinha feito um trabalho sobre o esquecimento”, explica.

Seu trabalho “Bala Perdida” rendeu a primeira exposição no Instituto Moreira Salles, em 2007, que dez anos depois, tragicamente, continua muito atual. “Olhando para aquelas imagens, parece um trabalho muito simples e essa simplicidade foi proposital. Morrer de bala perdida é uma tragédia e isso de repente passa a ser cotidiano. Como que uma tragédia pode ser cotidiana? São coisas inteiramente contraditórias”, relata a fotógrafa.

Anna acredita que a função do artista é dar sua opinião através da história que é escolhida para ser contada. “Por que aquele assunto te interessa? Por que a bala perdida me emociona? Por que eu vou pra Belém e me interesso em contar a história de tráfico de seres humanos? Isso fala de mim, fala do meu tempo, mas também fala do meu mundo e isso acaba dando sentido à minha vida”, finaliza.

A fotógrafa
A carioca Anna Kahn é jornalista e estudou fotografia na School of Visual Arts, em NYC. Viveu oito anos em Paris, trabalhando como freelancer para revistas e jornais brasileiros. Em 2013 recebeu o convite para uma residência artística, no interior da China, que rendeu o livro Oriente, vencedor do Prêmio Foto em Pauta. Ganhou o prêmio Marc Ferrez, em 2015, para retratar o trabalho chamado “Sem Medo do Escuro”, posteriormente lançado em livro, que será lançado nesta sexta (24), no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. Atualmente está expondo na Galeria Oriente, no Rio de Janeiro, junto das fotógrafas Ana Carolina Fernandes e Kitty Paranaguá. O trabalho Eles já Sabiam, sobre a tragédia de Mariana tem curadoria de Rogério Reis.

Sobre o projeto:
De acordo com o diretor do No Olhar, Tiago Ferraz, a ideia de produzir a websérie surgiu da necessidade de encontrar informações sobre fotógrafos brasileiros compiladas em formato documental. “Hoje encontramos muitos tutoriais técnicos, mas ainda existe uma carência em conteúdo sobre linguagem fotográfica e sobre a trajetória dos fotógrafos. Durante a produção da primeira temporada, percebemos que esta websérie ia além de um simples registro e o que tínhamos em mãos era um acervo da memória da fotografia brasileira dos últimos anos”, complementa.

A busca pelo lado humanista dos entrevistados também aparece na contrapartida do projeto. Mais de 100 crianças da rede pública de ensino tiveram a oportunidade de aprender um pouco sobre fotografia, se deixando encantar pela arte, assim como relatou Walter Carvalho, no primeiro episódio. “Essa iniciativa é muito gratificante, pois promove a descoberta de novos talentos nas áreas menos favorecidas da sociedade”, acrescenta Ferraz.


Assista aos vídeos disponíveis desta temporada



Confira em ordem alfabética os fotógrafos e fotógrafas que fazem parte desta temporada, lembrando que toda segunda-feira um novo episódio será exibido:

Arthur Omar (MG)
Bruno Veiga (RJ)
Cesar Barreto (RJ)
Custódio Coimbra (RJ)
Dario de Dominicis (radicado no RJ)
Flávio Damm (RS)
Joaquin Paiva (ES)
Kazuo Okubo (DF)
Kitty Paranaguá (RJ)
Luiz Garrido (RJ)
Marcia Charnizon (MG)
Marcos Bonisson (RJ)
Milton Guran (RJ)
Nana Moraes (RJ)
Paulo Marcos (RJ)
Pedro Vasquez (RJ)
Rogério Assis (radicado SP))
Walter Firmo (RJ)




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