29 de abr. de 2012

Anna Bella Geiger - Exposição ''Nem Mais Nem Menos'' na Galeria Artur Fidalgo



Há sete anos sem expor obras recentes individualmente
em galerias de arte, artista volta a criar e expõe trabalhos como “Rrolo-Scrolls com Terras e Mares” e o vídeo “Cuidado, Cão Feroz”

Anna Bella Geiger inaugura a exposição “Nem mais, nem menos” na próxima quinta-feira, 26 de abril, às 19h, na galeria Artur Fidalgo, com cerca de 20 trabalhos, quase todos inéditos, realizados entre 2009 e 2012. Dentre as inéditas, destacam-se peças como “Rrolo-Scrolls com Terras e Mares” e “Rrolo-Scrolls com flor antiga DÉCO e xícara de porcelana branca”, ambas de 2012, feitas com papel pergaminhado, e o vídeo “Cuidado, Cão Feroz”, também de 2012, produzido a partir de uma estatueta de bronze e objetos que se relacionavam com sua recente vídeo-instalação “Circa V”.

“Tenho feito muitas exposições, aqui e fora do Brasil, entretanto são retrospectivas ou mesmo recortes temporais ou de algum suporte específico. Quando percebi estava há sete anos sem mostrar trabalhos novos e o convite do Artur veio na hora certa de eu me recolher para criar”, declara Anna Bella.

Anna Bella Geiger é sem dúvida a primeira dama das artes visuais brasileiras. Desde o início da década de 1950 realiza um sólido trabalho com uma enorme variedade de meios de expressão, técnicas e materiais: desenho,  pintura,  fotografia, vídeo, xerox, cera, metais etc. A artista também tem papel fundamental no ensino da arte no Rio de Janeiro. Atuou no período áureo do Bloco escola do MAM e após seu término, transferiu-se para a Escola de Artes Visuais do Parque Lage onde leciona até hoje.

Sua obra se articula em torno da discussão sobre a paisagem não como representação da natureza, mas como uma de suas reconstruções poéticas. Isso se une à indagação sobre o significado da noção de território e, portanto da existência/ ausência das fronteiras que o configuram. É nesse lapso a “paisagem” se inclui. “Entre a geopolítica e a geopoética, entram as questões estéticas formais. Lido com as duas faces dessa geografia que é inesgotável – situações que eu tenho que decifrar. Para mim este é o papel do artista, desvendar o que está acontecendo e botar para fora como objeto de arte”, concluí.
                                              
Para o crítico Fernando Cocchiarale, curador da mostra, “a obra de Geiger surpreende por seu  compromisso com as questões mais vivas da arte atual. Longe de ter se cristalizado num estilo próprio, coerente, porém  imobilizador da dinâmica de qualquer processo efetivo de invenção e criação, segue pela via processual plena que renova e situa sua obra num patamar qualitativo único na produção artística brasileira. Não é pouco para alguém que há sessenta anos vem contribuindo para o debate das principais questões da arte brasileira”.



Sobre Anna Bella Geiger
Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Últimas Individuais: “On a certain piece of land”, The Red Gate Gallery, Pequim (2005); Projeto Respiração, “Circa”, Fundação Eva Klabin, Rio de Janeiro (2006);“Fotografia além da fotografia”, Paço Imperial, Rio de Janeiro (2008); “Anna Bella Geiger: vídeos 1974/2009”, Oi Futuro, Rio de Janeiro (2009-2010) e “Anna Bella Geiger: circa MMXI”, Sesc, Rio de Janeiro (2011).
Últimas Coletivas de destaque: “RolePlay: feminist art revisited 1960-1980”, Galerie Lelong, Nova York (2007); “Elles@Pompidou”, Paris, “La mancha humana. El arte conceptual en las colecciones”, CGAC, Santiago de Compostela; “Espai de lectura 1: Brasil”, MACBA, Barcelona (2009/2010); “Modern women single channel”, MoMA PS1, Nova York; “Como nos miran”, CGAC, Santiago de Compostela (2011).
Participou de oito Bienais de São Paulo; 39a Bienal de Veneza; II Bienal de Liverpool; 8ª Bienal do Mercosul e Europalia, Bélgica. Tem obras nas coleções do MoMA, Nova York; Centre Pompidou, Paris; ICA, Chicago; Victoria & Albert Museum, Londres; Getty Collection, Los Angeles; Museo Reina Sofia, Madri; MAM, Rio de Janeiro e São Paulo, entre outras.
Principais prêmios: Gugenheim, Nova York (1982) e Ibram de Arte Contemporânea (2011).

SERVIÇO:
Anna Bella Geiger  – Nem mais nem menos
Curadoria:Fernando Cocchiarale
Exposição: aberta ao público até  31 de maio de 2012
Segunda a sexta, 11 às 19h | sábado, 11 às 18h
Grátis | Livre para todos os públicos

Galeria Artur Fidalgo
Rua Siqueira Campos 143 | 2º piso
Copacabana | RJ
21 2549-6278
www.arturfidalgo.com.br

27 de abr. de 2012

ABSTRAI ensemble abre temporada de concertos no Rio, dia 27, na Sala Villa-Lobos



ABSTRAI ensemble abre temporada de concertos no Rio, dia 27, na Sala Villa-Lobos

Conhecido por conjugar instrumentos tradicionais a novas tecnologias e elementos eletrônicos, grupo se destaca na renovação da música de concerto contemporânea no Rio de Janeiro

É bem verdade que a música de câmara contemporânea conta com pouco estímulo para encomendas ou estréias de obras nacionais, mas o grupo ABSTRAI ensemble prova que o Rio de Janeiro ainda é celeiro neste segmento. No próximo dia 27 de abril, às 19h, a Sala Villa-Lobos (UNIRIO) será palco de uma pequena amostra do virtuosismo dos músicos, inaugurando a temporada 2012 patrocinada pela Secretaria de Estado e Cultura do Estado do Rio de Janeiro (SEC-RJ). Neste recital, com entrada a R$1,00, a formação será reduzida – são onze integrantes na formação completa -, desta vez em quarteto, com Pedro Bittencourt (sax), Paulo Dantas (eletrônica), Batista Júnior (clarineta) e Pauxy Gentil-Nunes (flauta), interpretando obras de Rodrigo Lima, Alexandre Fenerich. Marcelo Carneiro, Guilherme Carvalho e Pauxy Gentil-Nunes – este, compositor residente do ABSTRAI ensemble em 2012.
Conhecido por interpretar obras produzidas nos séculos XX e XXI conjugando instrumentos tradicionais a novas tecnologias, o grupo aposta na renovação da música de concerto contemporânea através também da informação. Durante a apresentação, obras são comentadas pelo grupo, buscando fornecer ao público material informativo sobre o processo criativo, composição e curiosidades. No final de cada concerto, reserva-se um espaço para perguntas do público aos membros do grupo.
Para a sua temporada de 2012, o ABSTRAI ensemble irá contar com dois novos instrumentos: clarineta e violoncelo. No total, serão quatro concertos, passando também pela Escola de Artes Visuais (15/06) e Academia Brasileira de Letras (05/07), com encerramento, em agosto, na Escola de Música da UFRJ (03/08). Além do patrocínio da SEC-RJ, o ABSTRAI Ensemble conta ainda com o apoio da Escola de Música da UFRJ, do Forum de Ciência e Cultura da UFRJ, da UNIRIO e do Parque Lage.

HISTÓRICO

Criado em abril de 2005 por Pedro Bittencourt visando a se apresentar no ano do Brasil na França, a estréia do grupo se fez mesmo em território francês, quando Pedro recitou ao lado de músicos franceses e japoneses, num concerto na Galerie des Beaux Arts de Bordeaux, junto com a exposição individual do pintor Iberê Camargo.
Com o curso de sax concluído no Conservatorio National de Musique - fundado pelo mestre Jean-Marie Londeix – ingressou no mestrado na Universidade de Bordeaux, pesquisando sobre “Iannis Xenakis”, um dos mais influentes compositores do século XX. Pouco depois entraria no doutorado da Universidade Paris 8, com uma pesquisa sobre musica mista para sax na fase final, que viriam a ser fortes influências na identidade do ABSTRAI.
Em abril de 2008, o ABSTRAI ensemble se apresenta no espetáculo “Wellen durch Dichter" ("Ondas segundo poetas", "Waves by poets") em Karlsruhe, Alemanha, no prestigiado ZKM (Centro de Artes e Mídias de Karlsruhe), onde Pedro Bittencourt foi artista-residente por três vezes. Sucesso de público e de crítica, o espetáculo reunia somente peças inéditas, além de projeção de vídeos e poesias sobre o mar, na conceituada sala de concerto “Kubus” do ZKM. A formação do ABSTRAI ensemble nessa ocasião contou com voz feminina, flauta, clarinete, sax, cello, percussão e eletrônica.
No final do ano seguinte, Pedro Bittencourt, em seu ultimo ano residindo em Paris, organizou o espetáculo "Ondas segundo Poetas", versão brasileira, com musica contemporânea brasileira, vídeo e poesia. A formação do ABSTRAI ensemble era em trio (flauta, sax, clarinete e eletrônica), com músicos residentes na França (um brasileiro, uma francesa e um espanhol) para as comemorações dos 50 anos da Maison du Brésil, em Paris, com patrocínio da Embaixada Brasileira em Paris.
Em 2011, a “versão brasileira” do ABSTRAI ensemble contava já com nove músicos, com Pedro Bittencourt e Paulo Dantas na direção musical. Nesse ano, o grupo se apresentou duas vezes no Centro Cultural Banco do Brasil - dentro da temporada da Sala Cecília Meirelles -, além dos recitais no Parque Lage e na Casa do Estudante Universitário, no Rio de Janeiro. A partir desse ano, o grupo passou a contar com o patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro (Secretaria de Estado e Cultura - SEC-RJ), que se estende em 2012, através do edital de música de câmara contemporânea.
            Hoje, com onze integrantes, o ABSTRAI ensemble é formado por Doriana Mendes (Voz), Pauxy Gentil Nunes (Flauta), Pedro Bittencourt (Sax), José Batista Júnior (Clarineta), Marcos Campello (Guitarra), Hugo Pilger (Violoncelo), Larissa Coutrim (Contrabaixo), Katia Baloussier (Piano), Paulo Dantas (Eletrônica, composição e regência ), Pedro Sá e Daniel Serale (Percussão).

SERVIÇO:

ABSTRAI Ensemble – 27 de abril - 19h
Sala Vila Lobos - UNIRIO

Av. Pasteur 436 Urca - Rio de Janeiro
Informações: 21-2542-4477

Entrada: R$1,00

Programa:
·         Rodrigo Lima – “Sopro de Câmara” (2009)
(flauta, sax alto e clarone)
·         Alexandre Fenerich – “Ser como um rio que deflui” (2006)
(Acusmática)
·         Marcelo Carneiro – “Rocabela City”  (2012)
(sax, clarinete, eletrônica)
·         Pauxy-Gentil Nunes – “Ermo” (2004)
(flauta e eletrônica)
·         Guilherme Carvalho – “Intraduções” (2009)
            (flauta, sax sop, clarineta, eletrônica)

Tributo a Pixinguinha neste sábado, dia 28, na Arlequim


A Arlequim, charmosa livraria no Paço Imperial (RJ), vai promover neste sábado, dia 28, às 15h, um Tributo a Pixinguinha, para celebrar o Dia Nacional do Choro e o aniversário de Pixinguinha - 115 anos (23 de abril).

Um prestigiado quinteto assume a homenagem, reunindo os chorões Ronaldo do Bandolim, Rogério Souza, Mário Sève, Marcio Hulk e Celsinho Silva. 
Mando um breve release e o serviço abaixo e fotos em anexo. Seria possível divulgar no site o evento? abs. Cezanne.



Tributo a Pixinguinha neste sábado, dia 28, na Arlequim

Para celebrar o Dia Nacional do Choro e o aniversário de Pixinguinha, Ronaldo do Bandolim e Rogério Souza comandam um quinteto de peso


Para celebrar o Dia Nacional do Choro e o aniversário de 115 anos de Pixinguinha (23 de abril), um quinteto de peso, formado por Ronaldo do Bandolim, Rogério Souza (violão 7 cordas), Mário Seve (flauta), Marcio Hulk (cavaquinho) e Celsinho Silva (pandeiro), fará uma grande homenagem ao mestre, autor de grandes clássicos do nosso cancioneiro, como "Carinhoso" e "Rosa".  Este grande encontro será neste sábado, 28, às 15h, na Arlequim, no Paço Imperial

Ronaldo do Bandolim, considerado um dos maiores bandolinistas brasileiros, é integrante do Trio Madeira Brasil e já participou de gravações com grandes nomes da música brasileira, como Marisa Monte, Paulinho da Viola, Rafael Rabello e Chico Buarque. Talento nos violões de 6 e 7 cordas, o compositor e arranjador Rogério Souza é um dos grandes representantes da linguagem carioca do violão brasileiro. Ao longo dos anos, apresentou-se com artistas de destaque da música popular brasileira, dentre eles Baden Powell, Paulinho da Viola, Sivuca, Ney Matogrosso, Altamiro Carrilho, João Bosco, Paulo Moura e Ivan Lins.

Música na Arlequim – Tributo a Pixinguinha com Ronaldo do Bandolim e Rogério Souza. - Sábado, 28/04, às 15hs
Endereço: Praça XV de Novembro, 48, Loja 1 - Centro - Rio de Janeiro - RJ
Telefone.: (21) 2524-7242  (reserva)
Ingressos: R$20,00 (couvert artístico)

Rio Musica - Cinco Séculos de Musica no RJ

16 de abr. de 2012

O RIO QUE O RIO NÃO VÊ

                              

Todos os dias da semana, das primeiras horas da manhã ao alvorecer, as ruas do Centro da cidade do Rio de Janeiro são visitadas por milhões de pessoas, a maioria das quais a trabalho. Umas usuárias das diversas linhas de ônibus que convergem ao Centro vindo de todas as partes da cidade aguardam desligadas – e na maioria das vezes desconfortavelmente instaladas – o momento de saltar. Outras caminham em múltiplas direções, no intuito de chegar a algum lugar, seja o trabalho, um local para almoçar ou uma loja comercial qualquer, num intenso frenesi de objetivos. Sua atenção está voltada para os milhares de veículos que diariamente circulam pela cidade. Ou para a miríade de gatunos que se aproveitam de um momento qualquer de desatenção para levar-lhes o celular ou as suadas economias. As mulheres preocupadas com as bolsas. Os homens, com os bolsos. Por vezes, ainda, não prestam atenção a coisa nenhuma. Simplesmente caminham, mecânica e nervosamente, sugerindo a velha imagem de formigas num formigueiro.

É pena. Esse misto de tensão e desatenção não lhes permite perceber que o Centro do Rio de Janeiro oferece uma espetacular aula de história da arte a céu aberto. Como localidade histórica inicial de fundação da cidade, o Centro está repleto de construções civis e religiosas nascidas ao longo desses quase 500 anos de civilização carioca. E como núcleo principal de uma cidade que foi capital da Colônia, do Império e da República por quase duzentos anos, nele se encontram instaladas as sedes das mais diversas instituições, públicas e privadas, como museus, teatros, bibliotecas, bancos, seguradoras, companhias de navegação e muito mais.

O presente artigo apresenta uma pequena parte da pesquisa empreendida pelo autor no livro O RIO QUE O RIO NÃO – OS SÍMBOLOS E SEUS SIGNIFICADOS NA ARQUITETURA CIVIL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Como o título já sugere, a ideia central aqui é tentar estabelecer uma relação simbológica entre os ornamentos principais das fachadas dos prédios civis – tanto públicos como privados – com o uso final desses imóveis. Em outras palavras, pretende-se estabelecer uma função objetiva – o objetivo contido no símbolo – para a existência dos ornamentos nas diferentes fachadas estudadas.

Dentre os movimentos e estilos arquitetônicos inspiradores das inúmeras construções que foram se acumulando ao longo do tempo na malha urbana carioca, foi o Ecletismo, principalmente, o que mais se ocupou de estabelecer uma profunda relação entre os ornamentos e sua função simbólica na concepção das fachadas. No Rio de Janeiro, foi nas duas primeiras décadas do Século XIX que esse movimento arquitetônico – amado por uns e desprezado por outros – teve seu apogeu. É nesse período, pois, que se concentra a grande maioria dos ornamentos/fachadas aqui estudados.

Como o interesse iconográfico da pesquisa era tão somente o ornamento, muitas vezes de pequenas dimensões em comparação ao todo, o autor lançou mão de uma lente fotográfica capaz de aproximar o ornamento arquitetônico sem perder-lhe a riqueza de detalhes, destacando-o quase completamente da fachada a que pertence. Convém lembrar que a maioria das imagens do presente trabalho – que no momento já remontam a quase 1000 – foi feita a partir do nível da rua e que os símbolos estudados estão, na esmagadora maioria dos casos, localizados no alto das fachadas, portanto a 20, 30, 50 ou por vezes 100 metros de distância do fotógrafo.

O Rio de Janeiro, em especial o Centro da cidade, possui várias joias da coroa no quesito construções dotadas de ornamentos. O Teatro Municipal, a Assembleia Legislativa, o Palácio Pedro Ernesto, a Santa Casa da Misericórdia, a Secretaria Estadual de Fazenda, são exemplos óbvios. Mas destaque-se também as fachadas de imóveis pertencentes ao pequeno comércio, como a Sapataria Scarpia, na esquina da Avenida Passos com a Rua Buenos Aires, ou as Casas Franklin, na mesma Avenida Passos, cuja fachada mereceu, por sua beleza e monumentalidade, a escolha como símbolo do Projeto Corredor Cultural do Rio de Janeiro, que visa à preservação e à conservação dos prédios de interesse histórico e artístico na cidade.

O Museu Nacional de Belas Artes é igualmente uma dessas joias da coroa. Ocupando todo um quarteirão – a fachada principal faz frente para a Avenida Rio Branco, as laterais para as ruas Araújo Porto Alegre e Heitor de Melo e a fachada traseira para a Rua México – o prédio está lotado de ornamentos simbólicos, todos evidentemente relacionados às artes. São alegorias à Arquitetura, à Pintura, à Escultura, instrumentos de trabalho dos mais diversos fazeres artísticos, alto-relevos relativos às civilizações clássicas e suas contribuições artísticas, musas e deusas fazendo as vezes de cariátides e representações dos gênios da arte universal, como Leonardo da Vinci e Vitruvio, e dos membros da Missão Artística Francesa de 1816, como Grandjean de Montigny, Debret e Taunay.

Destacam-se, para efeito do presente artigo, os excepcionais alto-relevos em terracota na fachada da Rua México, dois retangulares e dois em formato de semicírculo, executados pelo escultor inglês Edward Caldwell Spruce, ativo na cidade de Leeds na virada do Século XIX para o XX.

Os magníficos alto-relevos de Spruce estão lá, na Rua México, para quem se dispuser a admirá-los. Concentraremo-nos, aqui, no primeiro deles, apenas. Disposto à esquerda da fachada, em semicírculo, retrata uma grande cena com doze pessoas em três grupos: o grupo central é dominado pela figura alegórica da Arquitetura portando uma maqueta. Por trás dela, à sua direita, vê-se figura também relacionada à Arquitetura, pois conduz esquadro, fio de prumo e desenho; à sua esquerda está a Escultura, que tem à mão uma estatueta. O grupo no canto inferior esquerdo, composto por quatro pessoas, é dominado pela figura de um escultor, com seus instrumentos de trabalho, e no grupo da direita vê-se um sacerdote, crucifixo em punho; completam cada grupo, no primeiro plano, duas mulheres apontando para um livro aberto: seria possível ver na mulher da esquerda uma alegoria às letras profanas, já que ela tem os seios à mostra, enquanto a da direita, mais recatada, representaria as letras sagradas?

Compete com o MNBA, no quesito riqueza de ornamentos, o recém-restaurado Teatro Municipal, bem defronte ao anterior. Considerado a expressão máxima do Ecletismo em nossa cidade, ele está ornamentado “dos pés à cabeça” e por todos os ângulos de observação. Nesses tempos de restauração, em que o prédio reluz de novo, não se pode deixar de observar, por exemplo, as diversas cariátides em bronze que “sustentam” a fachada principal. Uma delas tem os seios à mostra e está representada junto a diversas frutas, com destaque para o abacaxi e as uvas que lhe adornam os cabelos. É Ceres, a deusa grega das colheitas. Uma outra, também desnuda, não possui, numa fugaz observação, nenhum atributo que lhe indique a identidade, mas observe-se que sua cabeça e suas partes pudendas estão cobertas por uma grande pele de animal, um felino. Trata-se, portanto, da deusa caçadora grega Ártemis, equivalente a Diana na simbólica romana. Os exemplos não param.

No tímpano do frontão da Santa Casa da Misericórdia, no número 206 da Rua Santa Luzia, encontra-se um dos mais notáveis alto-relevos da cidade, de autoria do italiano Luiz Giudice. No centro de um monumental medalhão circular em pedra de lioz predomina a figura da Virgem da Misericórdia, também chamada Virgem do Manto Protetor; sob um grande manto, símbolo da Santa Casa da Misericórdia, ela abriga 8 pessoas, representantes de todos os grupos sociais. Nossa Senhora da Piedade, representada por mulher sentada amamentando criança, é vista à esquerda da figura principal; à direita, um religioso da Ordem da Santíssima Trindade, ajoelhado e fitando diretamente a Virgem, representa Frei Miguel de Contreras, frei espanhol radicado em Lisboa a quem é atribuída a fundação, em fins do Século XV, da Santa Casa da Misericórdia. Completam a cena outras cinco pessoas, em andrajos ou desnudas: três crianças, um jovem e uma mulher com pano amarrado à cabeça, que ampara a menor das crianças. Na parte inferior do medalhão, abaixo da cena acima descrita, dois brasões: o da Santa Casa da Misericórdia (cruz e escudo com as cinco chagas de Cristo) e as armas do Segundo Reinado brasileiro, representadas pela coroa imperial, a esfera armilar e a cruz da Ordem de Cristo; entre os brasões, as três flechas que supliciaram São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro; por trás dos brasões, á direita e à esquerda, ramos de plantas simbólicas.

Mas deixemos um pouco de lado a observação das opulentas fachadas dos prédios oficiais – como as das três instituições acima – e concentremo-nos, por um instante, na profusão de pequenas construções civis, a maioria destinada ao comércio, que o vocabulário arquitetônico eclético fez florescer em nossa cidade. A necessidade conceitual de que a arquitetura deveria exprimir através do estilo a função a que se destinava forçou o desenvolvimento de uma apurada mão de obra artesanal, artistas que, se não conseguiram colocar seus nomes nos compêndios clássicos da arquitetura nacional, ajudaram, com uma interpretação simbólica toda própria dos ornamentos, aliada a uma profunda liberdade criativa, a forjar uma cidade culturalmente mais alegre e mais rica.

Um desses exemplos de liberdade criativa pode ser visto no coroamento do Hotel Aymoré (Rua Carlos Carvalho, 106), na Praça da Cruz Vermelha: o busto de uma figura masculina desempenha a dupla função simbólica de representar o índio brasileiro ao mesmo tempo em que evoca a figura do deus romano Mercúrio, padroeiro dos comerciantes, através de um único adereço, o cocar indígena de um e o capacete alado do outro.

A cornucópia é um antigo símbolo de riqueza, prosperidade e abundância. Terá sido essa a razão de o artista inserir, na fachada do número 4 do Largo São Francisco de Paula, vários pares de luvas e leques brotando a partir das extremidades de duas cornucópias? Teria funcionado ali uma luvaria?

Alheio às buzinas dos carros, sirenes das ambulâncias e ao barulho dos homens, com as pernas para fora de seu nicho, indiferente até ao perigo de cair, um querubim graciosamente esculpe, concentrado, um busto de mulher. O pequeno detalhe, a 30 metros de altura, pertence ao Edifício Engenheiro Ataulpho Coutinho, no número 287 da Rua do Riachuelo. Só não vê quem não quer.

Nem só de referências cristãs ou da Grécia Antiga vive a ornamentação arquitetônica carioca. Em muitos sobrados podem ser facilmente encontradas manifestações simbólicas que remetem à tradição franco-maçônica. São olhos que tudo veem, réguas, compassos, esquadros, pentagramas e muito mais. Um dos mais notáveis exemplos se encontra no coroamento do sobrado localizado no número 54 da Rua Frei Caneca: um compasso e um esquadro se entrelaçam junto a uma régua e uma engrenagem.

Uma visita ao número 40 da Rua Pedro Alves, na Gamboa, não terá sido em vão. Ali o proprietário, apaixonado pela tradição egípcia, fez representar, ao longo de toda a fachada, deusas e discos solares alados.

Que significado terão três leões dispostos triangularmente, dois dos quais empunhando botas quase maiores do que eles próprios, no número 98 da Rua do Lavradio? E o que estaria fazendo, passeando por uma ensolarada cadeia nevada de montanhas, um urso polar em plena Avenida Rodrigues Alves?
São as perguntas acima, e muitas outras, que O RIO QUE O RIO NÃO VÊ se pretende responder. Quem vir verá.

Sobre o autor:
Luiz Eugenio Teixeira Leite é designer gráfico, fotógrafo e crítico de arte.

 

Sobre a obra

O RIO QUE O RIO NÃO VÊ– OS SÍMBOLOS E SEUS SIGNIFICADOS NA ARQUITETURA CIVIL DO CENTRO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Editado pela AORI, o livro foi patrocinado pelo BNDES e temaproximadamente 200 fotografias coloridas em 250 páginas.


 


 

Lançamento - No próximo dia 18 de abril, a partir das 18 horas,na Livraria da Travessa da Rua Sete de Setembro, 54, no Centro do RJ.
A entrada é franca,

Espero vocês lá!