11 de mar. de 2014

Febril

A novela O idiota de Fiódor Dostoiévski ganha nova montagem teatral, desta vez pela Cia Em Obra.
“Febril” interage com uma instalação cênica e uma banda que toca ao vivo. Com uma narrativa fragmentada e ágil, a encenação procura se colocar neste espaço híbrido de linguagens se lançando no romance de Dostoiévski a fim de investigar as composições possíveis de junção.

Estreia dia 14 de março (sexta-feira), às 20h, no Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas, localizado no bucólico bairro de Santa Teresa.



Fotografia:Chico Monjellos


“Febril” é um trabalho de narrativa fragmentada e intensa. Utilizando do mesmo dispositivo que Dostoiévski se serve em uma de suas novelas curtas, A Doce Criatura, a encenação também começa pelo fim. O assassinato de Nastácia Filíppovna é o que conduz o elenco aos acontecimentos do romance, que se transformam em peças de um quebra-cabeças que serão apresentadas ao espectador através do olhar do Príncipe Míchkin, o último produto de uma grande família decaída, em busca dos motivos que levaram ao assassinato da personagem controversa. Fantasmas de uma memória atordoada e doentia, os personagens nesta adaptação são partes que ajudam a entender as razões do crime.


O supremo ideal ético de Dostoiévski

Imersos em um ambiente decadente, em uma Rússia em processo de transformação, indo ao encontro dos valores ocidentais e perdendo sua tradição única, os personagens estão perdidos pela crise gerada “com a Morte de Deus”, estão em nova configuração subjetiva de um mundo material e empírico, se afastando cada vez mais de qualquer relação metafísica. Neste cenário de personagens demasiados humanos, um homem cruza seus caminhos, um cristo renegado, um redentor realista e, em última instância, um idiota, o Príncipe Míchkin é a figura da salvação perdida, inútil para o caminho que a humanidade, na visão de Dostoiévski, caminha.

“A montagem de textos de Fiódor Dostoiévski apresenta um dos mais instigantes desafios para atores e diretores, pois a dimensão vacilante e multifacetada de seus personagens exercitam nos intérpretes a compreensão ampla e complexa do ser humano”, diz o diretor Pedro Emanuel, também responsável pela adaptação do texto.


“O esquisito é aquele que se desvia acentuadamente do papel social que lhe destinam.”

 
 Fotografia:Chico Monjellos

 
Com uma banda ao vivo ditando o ritmo acelerado da montagem, e uma instalação que é formada por luzes em vermelho neon, a atmosfera febril se completa com a narrativa fragmentada e ágil. Atores e atrizes se entregam a experiência de compor personagens intensos e viscerais, que através de torções físicas proporcionam a visão de figuras que perdem o controle de suas atitudes e são devoradas pela força opositora de suas paixões exarcebadas, incontroláveis e avassaladoras a qualquer ideia racionalista. O elenco é composto por: Ana Luiza Cunha (Generala Lisavieta Prokofievna), Eduardo Parreira (General Iepantchin), João Lucas Romero (Príncipe Míchkin), Julia Mendes (Nastácia Filíppovna), Mario Terra (Libediev), Paula Valente (Aglaia), Pedro Casarin (Gánia), Rubi Schumacher (Varvara Ardaliónovna) e Zeca Richa (Rogójin).

A trilha sonora visa passear pela música eslava e Russa, com influências dos cânticos ortodoxos, mas não deixando de lado o universo dos ritmos brasileiros, o rock, o jazz e outros estilos universais. “Buscamos sonoridades quentes e que visem acompanhar a atmosfera única da poética de Dostoiévski, utilizaremos de inúmeros instrumentos e artifícios visando diversificar os arranjos mas mantendo uma referencia e um caminho que remeta as harmonizações da música sacraortodoxa da Russia”, comenta o diretor musical Pedrinhu Junqueira. Os músicos Pedrinhu Junqueira (guitarra), Gabriel Balleste (baixo), Silvan Galvão (percussão), Gui Stutz (trumpete) e Henry Schroy (contrabaixo e teclado) tocam a trilha ao vivo.

A instalação cênica do artista plástico e iluminador Tomás Ribas é absolutamente pertinente ao espetáculo, pois ela vai diretamente ao encontro das direções que peça toma e deste modo potencializa o tom que a encenação produz. Ela fortalece a atmosfera de intensidade que a obra de Dostoiévski imprime. “A instalação do Tomás é formada por luzes em vermelho neon, e cria o espaço e a iluminação para a primeira cena da nossa montage: o mausoléu de Nastácia Filíppovna. Com um espelho em cada extremidade do corredor de luzes, a imagem é vista refletida por ambos os lados, gerando uma imagem de fundo infinito. O tom de vermelho percorre o restante da galeria onde as outras cenas do romance irão se dar, o estado febril nasce da intensidade desta cor e se prolifera na intensidade dos personagens. O vermelho sangue ganha múltiplos sentidos nas paredes pintadas da galeria, nas manchas que os atores deixam ao pisar no solo branco, no sangue que escorre da personagem Nastácia Filíppovna. A confusão da imagem que a instalação de Tomás Ribas provoca na primeira cena também é abordada no decorrer do espetáculo através da fragmentação do romance. Em suma, o diálogo com a instalação de Ribas é crucial para o tratamento que a peça traz para ao romance de Dostoivéski”, informa Pedro Emanuel.

“Realizar esta pesquisa a partir do trabalho contínuo de uma companhia teatral é engrandecedor, pois exige dos envolvidos um trabalho atento e redobrado. Levar para o teatro um romance como O idiota é, certamente, uma aventura árdua e desafiante para qualquer um que tenha como objetivo o trabalho cênico. E o príncipe Míchkin, incapaz de entender as exigências que a vida prática demanda, tornou-se um dos maiores personagens da literatura mundial. Inspirado na figura do salvador bíblico e do louco cavaleiro pobre de Cervantes, nos coloca diante de sua bondade desconcertante e de sua moléstia nervosa fora do comum”, conclui o diretor.

Cia Em Obra

Criada em 2012, sua linha de pesquisa é baseada no imbricamento de três artifícios chaves que guiam o trajeto de seu processo criativo: a edição cênica – uma adaptação do conceito de corte cinematográfico para a cena teatral (produz a fragmentação da ação e a simultaneidade de tempos distintos); a multiplicidade do espaço – como multiplicar locações em um único espaço cênico, utilizando o mínimo de recursos possíveis para esta variação; e por fim, a utilização de inserções musicais como parte fundamental de sua construção narrativa. Para isso aposta no trabalho do ator, capacitando-o a criar, editar e transformar o espaço já criado, através de jogos, gestos e textos. “Febril” é o terceiro espetáculo do grupo e a consolidação do trabalho de pesquisa que vem realizando nestes anos. Os espetáculos anteriores são: “Não Há Melhor Lugar do Que a Nossa Casa” (2012; texto e direção de Pedro Emanuel), drama familiar que narra os episódios de um casal, desde o início do relacionamento até a degradação de seu matrimônio; simultaneamente é exposto a saga de três irmãos. “O Confuso e Misterioso Roubo das Vírgulas” (2013; adaptação e direção de Pedro Emanuel), musical infantil que conta a história de três amigos que procuram o culpado pelo roubo das vírgulas de cartas, receitas, contas e artigos. Este espetáculo foi eleito pela Revista Veja Rio uma das 5 melhores peças infantis de 2013; atualmente segue cumprindo a terceira temporada.
FICHA TÉCNICA

Direção e Adaptação: Pedro Emanuel
Supervisão de Direção: Fábio Ferreira
Elenco: Ana Luiza Cunha, Eduardo Parreira, João Lucas Romero, Julia Mendes, Mario Terra, Paula Valente, Pedro Casarin, Rubi Schumacher e Zeca Richa.
Banda ao Vivo: Pedrinhu Junqueira (guitarra), Gabriel Balleste (baixo), Silvan Galvão (percussão), Gui Stutz (trumpete) e Henry Schroy (contrabaixo e teclado).
Iluminação: João Gioia
Cenário: Carlos Augusto Campos
Instalação Cênica: Tomás Ribas
Figurino: Tiago Ribeiro
Composição Original das Músicas: Banda Irmãos Fiodorov
Direção Musical: Pedrinhu Junqueira
Direção de Movimento: Rafaela Amodeo
Maquiagem: Ludmila Rocha
Pesquisa do Autor: Marcos Aurélio Derizans
Consultoria de Música Tradicional Eslava: Pablo Emanuel
Assistência de Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni
Direção de Produção: Mariana Guimarães Nicolas e Pamela Côto
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Programação Visual: ZR Mosaico
Fotos: Chico Monjellos
Apoio: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas
Produção: L7 Produções Artísticas
Realização: Cia Em Obra
 
SERVIÇO

Nome do espetáculo: Febril
Direção e Adaptação: Pedro Emanuel
Supervisão de Direção: Fábio Ferreira
Sinopse: Adaptação da obra O idiota de Dostoiévski. O assassinato de Nastácia Filíppovna é o que conduz o elenco aos acontecimentos do romance, que se transformam em peças de um quebra-cabeças que serão apresentadas ao espectador através do olhar do Príncipe Míchkin.
Com a Cia em Obra e a Banda Irmãos Fiodorov
Elenco: Ana Luiza Cunha, Eduardo Parreira, João Lucas Romero, Julia Mendes, Mario Terra, Paula Valente, Pedro Casarin, Rubi Schumacher e Zeca Richa.
Local: Parque das Ruínas (Galeria). Rua Murtinho Nobre 169, Santa Teresa, RJ.
Informações:
(21) 2252-1039
Estreia: 14 de março (sexta-feira), às 20h
Temporada: 14 de março a 13 de abril. Sextas às 20h, sábados e domingos às 19h.
Ingressos: R$ 30
Classificação indicativa: 14 anos
Capacidade de público: 80 pessoas
Gênero: Drama

Observação: Durante toda a temporada de “Febril” o público poderá visitar, com entrada franca, a instalação cênica de Tomás Ribas, intitulada “Túnel”, de terça a domingo.
 
Divulgação Cultural - Agenda Cultural RJ - Colagem de Cartazes - Distribuição de Filipetas - Divulgação de Mídia Online - Gabriele Nery (21) 99676-9323 / 99673-4350