Em função da grande procura do público pela exposição inédita “O cronista Graciliano no Rio de Janeiro”, o Sesc prorroga a ocupação até o dia 31 de maio. A mostra apresenta a vasta carreira do escritor no Rio, onde escreveu clássicos, como “Vidas Secas”, “Memórias do Cárcere” e “Infância”. A exposição também marca a reabertura do Arte Sesc, espaço cultural sediado no imponente casarão construído em 1912, no Flamengo, mantido pelo Sesc, que passa a oferecer uma farta programação artística à cidade.
- Esta exposição mostra que o casarão se torna um importante equipamento cultural da cidade. Um espaço de debate e circulação de ideias que representam o Rio. A programação tem como norte a cultura, a arte, a memória e a educação, com oficinas e atividades de formação - explica Maria Gouvêa, gerente de cultura do Sesc.
Com fundamental simbolismo literário no aniversário da cidade, a mostra gratuita sobre Graciliano reúne um vasto acervo do cronista no Rio, em uma exposição que mapeia toda a produção literária realizada em dois momentos: nos anos de 1914 e 1915, período em que Graciliano chega à cidade, então capital do país, onde trabalha como revisor no jornal Correio da Manhã e escreve o enredo do livro “Angústia”. E entre 1936 e 1953, um momento crucial da história brasileira. Neste período, Graciliano se consagra com as obras “Memórias do Cárcere” – escrita quando esteve detido no presídio da Ilha Grande -, “Vidas Secas” e “Infância”.
- Os 450 anos do Rio de Janeiro proporcionam excelente oportunidade para um reencontro com o cronista que tão bem compreendeu as contradições da cidade, retratando-a para além das aparências e clichês – avalia Selma Caetano, curadora da exposição.
Sobre a exposição
Com um riquíssimo acervo de fotos, periódicos, documentos, vídeos e uma ambientação do local de trabalho do escritor, a mostra é um passeio histórico por momentos determinantes da cidade. Muitos deles relembrados em um inédito e emocionante vídeo com depoimento de Luiza Ramos, filha de Graciliano. Dentre os documentos, o manuscrito da carta que Graciliano escreveu a Getúlio Vargas após sua saída da prisão em Ilha Grande, em 1937. No acervo, também encontramos relíquias, como os manuscritos de “Infância” e sete peças audiovisuais, dentre elas um vídeo cronológico que revela os momentos mais marcantes de Graciliano no Rio e a grande amizade entre o escritor e Cândido Portinari, o primeiro pintor brasileiro de maior projeção internacional.
Pelos corredores e galerias de suntuosos pés-direitos com tetos revestidos de afrescos, o casarão abriga sensíveis objetos e reproduções da vida e produção do cronista. Com realização do Sesc, curadoria de Selma Caetano, pesquisa de Ieda Lebensztayn e Thiago Mio Salla, a exposição alia história e tecnologia. Em uma grande tela touch screen, o público pode escolher dentre 20 vídeos com depoimentos de personalidades sobre o cronista, como Alcides Villaça, Antônio Carlos Secchin, Luiz Costa Lima, Luiz Ruffato, Luiza Ramos Amado, Marçal Aquino, Nuno Ramos e Silviano Santiago, entre outros.
Com horário de visitação as terças, das 10h às 19h, quarta a sexta, das 10h às 18h e sábados e domingos, das 10h às 17h, a exposição oferece ao público um espaço de leitura com todos os livros de Graciliano, além de peças que denotam toda a sensibilidade do autor, como na frase “A palavra não foi feita para enfeitar”, ou na peça em que ele fala sobre o “passageiro pingente”. Ao se referir às pessoas que andavam “penduradas” nos bondes, o autor as descreve:
“Está claro que nenhum passageiro dos bancos deseja ser pingente e que todos os pingentes gostariam de sentar-se. Sucede, porém, que o pingente se acostuma a andar pendurado e, no fim da viagem, se deixa ficar onde está, ainda que haja lugares no carro. Subir para logo depois descer – que maçada! Não vale a pena. Continua como está, pingente. Adquiriu alma de pingente.”
(“Os passageiros pingentes”, Linhas tortas, 21ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2005)
Graciliano Ramos
Graciliano Ramos (1892-1953) nasceu na cidade de Quebrangulo, Alagoas. Foi romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista. É autor de livros clássicos, como Vidas secas, São Bernardo e Memórias do cárcere. Os três foram adaptados para o cinema, e diversas obras de Graciliano foram traduzidas para outras línguas. Seus livros, embora tratem de problemas sociais do Nordeste brasileiro, apresentam uma visão crítica das relações humanas, que os tornaram de interesse universal.
Arte Sesc
Projetado pelo arquiteto Gustavo Adolphsson e construído em 1912 para a residência da Família Figner, este casarão da Rua Marques de Abrantes, 99 - no bairro do Flamengo, exibe a imponência das construções burguesas que acompanharam o fluxo urbanístico expansionista do Rio de Janeiro dos primórdios do século 20.
Em 2002 o casarão passou por uma completa recuperação, com uma cuidadosa restauração de sua arquitetura original, seus ambientes, seus detalhes de revestimento, ornamentação e pintura. Em 2003, batizado de Arte Sesc, iniciou uma vigorosa programação artística e cultural, abrindo suas portas ao público.
Após um período para revisão de suas atividades, o Arte Sesc reinaugura revitalizado e com o propósito de ser um espaço onde a cultura, a memória e a arte estarão em permanente diálogo com a cidade.
Ieda Lebensztayn
Doutora em literatura brasileira pela FFLCH-USP fez pós-doutorado no IEB-USB sobre a correspondência de Graciliano Ramos. Autora de Graciliano Ramos e a Novidade: o astrônomo do inferno e os meninos impossíveis. São Paulo: Hedra, 2010.
Thiago Mio Salla
Professor do curso de Editoração da ECA-USP. Nesta mesma instituição, defendeu a tese de doutorado O fio da navalha: Graciliano Ramos e a revista Cultura Política (2010). Em 2012, pela editora Record, organizou o livro Garranchos: textos inéditos de Graciliano Ramos.
Serviço:
Exposição “O Cronista Graciliano no Rio de Janeiro”
Arte Sesc
Endereço: Rua Marquês de Abrantes, 99, Flamengo.
Tel.: (21) 3138-1582 e 3138-1634
Data: até 31/5 (domingo)
Horário: Terças, das 10h às 19h, quartas, quintas e sextas, das 10h às 18h, sábados e domingos, das 10h às 17h.
Preço: Gratuito
Classificação: Livre