Uma homenagem ao saudoso escritor Caio Fernando Abreu
A amizade entre a atriz e professora Nara Keiserman e o escritor Caio Fernando Abreu foi a grande motivação para a montagem do espetáculo “No se puede vivir sin amor”, que, depois de passar pelo teatro Sesc Copacabana e pelo Candido Mendes, volta ao cartaz, desta vez no Espaço Tom Jobim (Galpão das Artes) do Jardim Botânico, de 4 a 26 de abril, com sessões às 20h30 nas sextas-feiras e nos sábados, e às 19h30 nos domingos. A peça é uma coleção dos textos mais poéticos de Caio, morto em 1996, em que o amor é a premissa de uma existência eventualmente feliz e completa.
“No se puede vivir sin amor” foi concebida a partir de um convite feito a Nara Keiserman pela Feira do Livro de Porto Alegre, para homenagear Caio Fernando Abreu, quando ele completaria 60 anos. Depois, a performance foi trabalhada como pesquisa artístico-acadêmica e apresentada em diferentes versões em diversos eventos acadêmicos. Agora, estruturada como espetáculo teatral, mantém-se fiel aos princípios geradores: a homenagem ao autor e o compromisso com a investigação teatral.
O espetáculo segue a linha de teatralidade experimentada pela atriz no Núcleo Carioca de Teatro, assim como no grupo Atores Rapsodos, criado em 2000 com alunos formados na Escola de Teatro da UNIRIO, e aposta em dois conceitos: a utilização da literatura não dramática e a exploração das linguagens de texto e de movimento, como canais diferenciados na comunicação com o espectador.
O roteiro inclui os contos “Metâmeros”, “Mergulho II”, “Como era verde meu vale”, “Fotografias”, “Quando setembro vier” e “Creme de alface”; trechos de “Última carta para além dos muros”, e de “Dodecaedro”; além de inéditos escritos especialmente para Nara: um poema, uma carta e um texto para o programa de “Morangos Mofados”.
Foi justamente a amizade entre os dois que determinou alguns aspectos do trabalho, como a predominância do tom afetivo e a escolha dos textos, tematizando o amor e seus derivativos. “Eu fui amiga do Caio – o dirigi num espetáculo infantil em 1977, em Porto Alegre, encenei contos de ‘Morangos Mofados’ em 1982, no Rio de Janeiro, e também ‘(eu) Caio, Jogo Teatral’, com textos dele e sobre ele”. Seus textos me acompanham desde então e ainda, revela a atriz.
A encenação lida com a essencialidade. No espaço da atuação, apenas uma mesa, com poucos objetos ritualísticos, duas cadeiras. Seguindo o roteiro textual pré-estabelecido, os gestos e a vocalidade da atriz nascem dos sentimentos/emoções/imagens que emergem do próprio momento vivido, e se dá de acordo com a rede perceptiva estabelecida entre palco e plateia, como pede o bom teatro narrativo.
A versão teatral de “No se puede vivir sin amor” estreou em maio de 2013, em Belo Horizonte, e foi apresentada no 28º Festivale – Festival de Teatro de São José dos Campos.
Sobre a transformação dos textos
Em “No se puede vivir sin amor” o mundo invocado é aquele construído por Caio Fernando Abreu. Ao ser transposto das páginas planas do livro para a ampla dimensionalidade da cena teatral, as palavras, ouvidas internamente pelo leitor no exercício solitário da leitura, ao serem pronunciadas pela atriz em cena, com seus tempos e interpretações próprias, e ouvidas/vistas por um coletivo, fazem surgir uma outra realidade, produzida por uma espécie de fricção, de confronto artístico entre o autor, a atriz e os espectadores. Os vários planos de imaginação vão se somando até a formatação de um universo particular, próprio de cada espectador. “No se puede vivir sin amor” promove um momento para além do cotidiano, em que se recupera a arte esquecida e ancestral de contar e ouvir histórias e em que é dado ao espectador o prazer de exercitar serenamente a sua sensorialidade, através dos atos de ouvir e de ver.
Nara Keiserman pontua: “Sei de cor (de coração) os textos do Caio que mais gosto e o modo como vou falar, os movimentos que vou fazer, os momentos em que vou cantar melodias que são como sortilégios, são resultado deste aqui-agora e acredito que o que partilhamos neste evento teatral corresponde ao que nós todos, juntos, estamos precisando viver agora.”
Sinopse
Coleção dos textos mais poéticos de Caio, em que o amor é a premissa de uma existência eventualmente feliz e completa. O roteiro inclui um poema e duas cartas escritas por Caio especialmente para Nara.
Sobre Nara Keiserman – concepção, dramaturgia e atuação
É atriz, diretora, pesquisadora e professora na Escola de Teatro da UNIRIO. Atriz e co-fundadora do Núcleo Carioca de Teatro (1991 – 2001), dirigido por Luís Artur Nunes. Diretora artística do grupo Atores Rapsodos (desde 2000). Preparadora Corporal e Diretora de Movimento da Companhia Pop de Teatro Clássico (desde 1999), no Rio de Janeiro.
Mestre em Teatro pela USP, com a dissertação “A preparação corporal do ator - uma proposta didática” e Doutora pela UNIRIO, com a tese “Caminho pedagógico para a formação do ator narrador”. Pós-doutorado na Universidade de Lisboa, com pesquisa sobre “Aspectos da cena narrativa portuguesa contemporânea”.
Desenvolve Pesquisa Institucional na UNIRIO, denominada “Ator rapsodo: pesquisa de procedimentos para uma linguagem gestual”. Professora Associada na Escola de Teatro da UNIRIO, responsável pelas disciplinas de Movimento na Graduação e professora efetiva na Pós-Graduação.
Tem artigos publicados em revistas especializadas e ministra Cursos, Oficinas e Workshops sobre o Teatro Narrativo e sobre o Corpo Infinito do Ator.
Entre seus alunos, há vários atores famosos e premiados como Mateus Solano, Ana Beatriz Nogueira, Marcos Palmeira e Patrícia Pillar.
Sobre Caio Fernando Abreu - autor
Caio Fernando Abreu nasceu Santiago do Boqueirão, RS, 1948 e morreu em Porto Alegre, RS, 1996). Contista, romancista, dramaturgo, jornalista. Muda-se para Porto Alegre em 1963 e no mesmo ano publica seu primeiro conto “O Príncipe Sapo” na revista Cláudia. A partir de 1964 cursa Letras e Arte Dramática na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas abandona ambos os cursos para dedicar-se ao jornalismo. Transfere-se para São Paulo em 1968, após ser selecionado, em concurso nacional, para compor a primeira redação da revista Veja. No ano seguinte, perseguido pela ditadura militar, refugia-se na chácara da escritora Hilda Hilst (1930 - 2004), em Campinas, São Paulo. A partir daí passa a levar uma vida errante no Brasil e no exterior. Fascinado pelo contracultura, viaja pela Europa de mochila nas costas, vive em comunidade, lava pratos em Estocolmo e considera a possibilidade de viver de artesanato em uma praça de Ipanema. Na década de 1980, escreve para algumas revistas e torna-se editor do semanário Leia Livros. Em 1990, vai a Londres, lançar a tradução inglesa de “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso”. Vai para a França, em 1994, a convite da Maison dês ÉcrivainsÉtrangerset dês Traducteurs de Saint Nazaire, onde escreve a novela “BienLoin de Marienbad”. Em setembro do mesmo ano escreve em sua coluna semanal, no jornal O Estado de S. Paulo, uma série de três cartas denominadas “Cartas para Além do Muro”, onde declara ser portador do vírus HIV. Antes de falecer dois anos depois no Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre, onde voltara a viver novamente com seus pais, Caio Fernando Abreu dedicou-se a tarefas como jardinagem, cuidando de roseiras. Ele faleceu no mesmo dia em que Mário de Andrade: 25 de fevereiro. Entre os livros de contos publicados, tem-se “Inventário do Irremediável”, “O Ovo Apunhalado”, “Pedras de Calcutá”, “Morangos Mofados”, “Os Dragões não conhecem o Paraíso”, “Ovelhas Negras”, “Estranhos Estrangeiros”. Publicou ainda romances“Limite Branco” e “Onde Andará Dulce Veiga?”, as novelas “Triângulo das Águas” e crônicas “Pequenas Epifanias” e “Teatro Completo”.
Ficha técnica
Textos: Caio Fernando Abreu
Concepção, Dramaturgia e Atuação: Nara Keiserman
Direção, Iluminação e Arte: Demetrio Nicolau
Cenografia e Figurino: Carlos Alberto Nunes
Orientação Musical: Alba Lírio
Maquiagem: Mona Magalhães
Fotos: Matheus Soriedem
Filmagem: Ronaldo Iannotti
Produção: Natasha Corbelino
Assistente de Produção: Vanessa Garcia
Assessoria de Imprensa: Sheila Gomes
Realização: Atores Rapsodos
Serviço: No se puede vivir sin amor
Data: 4 a 26 de abril, sextas-feiras e sábados às 20h30; domingos às 19h30
Local: Espaço Tom Jobim - Galpão das Artes
Endereço: R. Jardim Botânico, 1008 - Tel.: 2274-7012
Ingressos: R$50(inteira) e R$25 (meia)
Lotação: 80 lugares
Classificação:16 anos
Duração: 60 minutos
Gênero:Drama